quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Flor do Caribe Peca Por Apostar em Personagens Rasos

Eu sou noveleira convicta, mas está muito difícil assistir as novelas da Globo nos últimos tempos. E olhem que eu tento...  Dou uma chance até acontecer o inevitável e os autores começarem a duvidar da minha inteligência. Vejam Flor do Caribe, por exemplo. Não basta os vilões serem nazistas assassinos metidos em negócios escusos, é preciso que em quase todo capítulo apareça algum personagem para dizer “Você é um mau caráter, Dionísio!”, “Você não vale nada Alberto!” ou então o famigerado “Você ainda vai pagar pelos seus crimes!”
Se eu virasse uma dose cada vez que esses diálogos acontecem, já teria me tornado alcoólatra. E os vilões não ouvem isso apenas durante uma discussão, mas em toda conversa que tem com alguém que não pertence ao núcleo maligno. Estou esperando o dia em que Alberto entra em uma lanchonete, pede um suco e vai ouvir do balconista “Você é um mau caráter Alberto, depois que pagar o lanche vai pagar pelos seus crimes!
Por que, né, se eles não reforçarem a falta de caráter dos vilões, bem capaz das pessoas não entenderem.
Déspota que é déspota impõe algum respeito, mas os vilões de Flor do Caribe são achincalhados todo dia, por qualquer um.

Não vou nem falar da falta de química do casal principal. Melhor falar sobre o papel constrangedor que deram para o José Louretto. O personagem que, imagino eu, foi concebido para ser uma espécie de Tonho da Lua consegue ser menos interessante que sua cabra. O núcleo de sua família é o mais irrelevante de toda novela. O que é uma pena, pois contam com a ótima Laura Cardoso e mesmo assim são piores que o núcleo de figurantes... ops... Funcionárias da ONG que só servem para declamar o quanto Ester é boa pessoa.

A novela só não é uma bomba completa por causa de personagens como Duque, Cristal, Amaralina e, é claro, Juliano e Natália. A Cristal, em especial, foi super mal aproveitada. O excesso de personagens nas novelas é um problema que a Globo devia corrigir logo. São 58 personagens dos quais uns 20 não fazem a menor diferença, mas continuam tomando o tempo em cena de tramas que poderiam render mais.

Flor do Caribe não é um fracasso, mas também não é o grande sucesso que poderia ser. Em boa parte porque falta alguns tons de cinza aos personagens principais. Não, não estou falando de cenas no estilo Christian Grey, mas de fragilidade e humanidade. Ester e Cassiano são duas Mary Sue. Para quem não sabe, é um termo usado em fanfics para designar um personagem original que é sempre perfeito e fodão.  Uma Ester ligeiramente mais insegura e um Cassiano que tivesse que ter lutado para provar suas acusações (inclusive para a família), teriam funcionado muito melhor.

Existem aqueles que gostam de tramas fáceis, mas no geral o público se tornou mais sofisticado. Não confiar na capacidade do telespectador em entender a história é um grande erro.